Vinte e cinco jovens do município de Meruoca (CE) estão realizando formação gratuita em audiovisual, promovida pela Sociedade Coração de Maria, associação comunitária da localidade de Santo Elias, que desenvolve projetos voltados para os segmentos da arte, cultura, economia criativa, sustentabilidade e agricultura familiar. O projeto TV de Rua iniciou as aulas em dezembro de 2022 e essas seguem até abril de 2023, no distrito de Anil.
A turma reúne jovens com idade entre 15 e 25 anos, que passam a conhecer o universo do audiovisual por meio de aulas teóricas e atividades práticas. A formação abrange conhecimentos em roteiro, fotografia, captação de som, montagem, LIBRAS, produção, direção, assessoria de comunicação, orçamento e trilha sonora, possibilitando ao aluno a atuação no mercado do audiovisual (documentário ou ficção) e da publicidade.
O projeto TV de Rua, que conta com financiamento da Secretaria Estadual da Cultura (Secult), por meio do programa Escolas Livres da Cultura, já aconteceu na localidade de Santo Elias, em 2017 e 2018; e em Meruoca, em 2019; beneficiando mais de 100 adolescentes e jovens da região.
“Muitos deles já trabalham em áreas afins, evidenciando que o leque de possibilidades se abre para quem adentra em atividades ligadas ao audiovisual. Seja em empresas do setor ou de forma autônoma, são diversas as possibilidades de atuação no mercado”, afirma José Arimatéia Ribeiro, presidente da Sociedade Coração de Maria. No segundo semestre de 2023, está prevista a realização de mais uma turma do projeto em Meruoca.
Para Ana Patrícia dos Santos, que ministrou a oficina de Assessoria e Comunicação, tão importante quanto essa formação para o mercado de trabalho, é o processo de aprendizagem cuja replicação se consolida em diversas áreas.
“Entender o processo audiovisual te traz possibilidades que ultrapassam a linha da produção em si. Em qualquer área de atuação profissional ou mesmo na lida cotidiana, a gente precisa pensar de forma crítica, enxergar além das aparências e se comunicar de forma mais eficiente. Tudo isso compõe a grade de aprendizado do TV de Rua. Eu me refiro ao projeto como um divisor de águas na vida desta juventude tão criativa e sedenta de novos conhecimentos. É um privilégio fazer parte desta jornada”, destaca Patrícia.
Formação em audiovisual
De acordo com Augusto Cesar dos Santos, cineasta meruoquense que ministrou a oficina de roteiro, o TV de Rua é um projeto inovador por promover o diálogo entre a forma clássica de se fazer audiovisual e os novos formatos e ferramentas em difusão na sociedade contemporânea, indissociáveis do processo criativo.
“O que a gente debateu nas aulas de roteiro foi justamente como aplicar a narrativa clássica a quaisquer formas de narrativa audiovisual, independente dos suportes de captação. Hoje em dia, com a onipresença dos celulares e das câmeras portáteis, é bem comum que as pessoas se percam nas múltiplas possibilidades que se abrem com a facilidade de se filmar tudo a toda hora. É assim que o que poderia ser um trunfo, se torna uma armadilha quando não nos atentamos à estrutura que sustenta qualquer obra: a história”, explica Augusto César.
A professora da disciplina de produção, Raylane Neres enfatiza, por sua vez, a importância do planejamento. “É a fase que considero mais impactante no processo audiovisual. Roteirizar e planejar, fazer orçamento, traçar planos logísticos e executar os termos acordados tornam a dinâmica audiovisual mais fluída e, necessariamente, mais orgânica. Os conteúdos apresentados na aula de produção podem ser facilmente replicados, tanto na vida profissional quanto pessoal. Afinal, aqueles que organizam suas tarefas – para executar da forma mais eficiente e otimizando custos – são os que mais se destacam”, ressalta Raylane, que está à frente da produção executiva de obras audiovisuais há mais de 10 anos.
Além das aulas teóricas, os participantes têm a oportunidade de colocar em prática os conhecimentos adquiridos em sala de aula. Com a supervisão de tutores do curso e equipamentos profissionais, os alunos captaram as imagens e sons das histórias criadas, que vão ser editadas e montadas nas próximas aulas.
O aluno Ítalo Pires, de 18 anos, mora no distrito de Anil e já produzia vídeos antes de participar do projeto, mas conta como a formação tem agregado em conhecimento. “Quando fiz o primeiro filme, não tinha experiência nenhuma. O curso me permitiu expandir a criatividade e trocar muitas ideias com os professores, principalmente sobre fotografia e edição, que são os assuntos pelos quais me interesso”, disse. “Hoje sei que são os detalhes que fazem a diferença. Aprendi que a edição não se trata apenas de cortar e colar, mas de narrar, e foi algo que transformou minha visão sobre os meus trabalhos no audiovisual”, afirma o aluno que sonha em se profissionalizar e viver das suas produções.